14 de out. de 2010

Consumidor já sente no bolso as vantagens do dólar mais barato

Produtos que dependem de importação já refletem a variação cambial.
Preços, porém, sofrem outras influências além do câmbio.

Queda do dólar

Comprar televisão, computador e telefone celular – os chamados bens duráveis – está mais barato no Brasil graças à queda do dólar.

Entre janeiro e setembro deste ano, o dólar acumula queda de 2,93%. Neste período, os aparelhos de videogame, por exemplo, ficaram 9,67% mais baratos, segundo uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), feita com base no Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

Ainda de acordo com a pesquisa da FGV, tiveram reduções maiores que a desvalorização do dólar no período os televisores (-8,23%), os celulares (-5,19%) e os aparelhos de som (-3,97%). No mesmo período analisado, a inflação pelo IPC acumula alta de 3,82%.

“Isso (a queda de preços) é visível em produtos que têm importação maior, como celulares, laptops, tevês de alta tecnologia, videogames. Estes itens de fato estão ficando mais baratos”, explica André Braz, economista da FGV.

O país está crescendo, a taxa de juros é interessante, passou a ser credor do Fundo Monetário, tem toda uma condição que favorece a valorização do real"
André Braz, economista da FGV

Ele destaca, porém, que não é só o câmbio que influencia o preço de um produto. O mercado é regido pela lei da oferta e da procura. É isso que justifica, por exemplo, o fato de o pãozinho francês, o macarrão e bolachas estarem mais caros - ainda que sejam produtos que levam em sua composição o trigo, que é, em grande parte, importado.

A seca em importantes regiões agrícolas, no entanto, reduziu a oferta do cereal no mercado, pressionando para cima o valor desses produtos. “Parte deste aumento poderia ter sido ainda maior se não fosse a valorização do real”, lembra o economista da FGV.

“A apreciação do real está contribuindo para evitar um avanço da inflação”, diz a economista Ariadne Vitoriano. Braz, da FGV, diz que o câmbio não representa um problema para a inflação em 2010, nem em 2011. “No caso da inflação, não há possibilidade de haver pressão por conta de câmbio.”

Influências
Quando o dólar se desvaloriza, a queda nos preços nem sempre é sentida de maneira tão automática também por outro motivo: o estoque. “Demora para acontecer o repasse porque tem estoques que foram feitos com o preço antigo”, diz Braz.

Embora o governo venha tomando medidas para evitar a valorização do real frente o dólar, o economista acredita que a tendência seja a moeda americana manter-se no patamar de R$ 1,70 ou até um pouco abaixo. “O país está crescendo, a taxa de juros é interessante, passou a ser credor do Fundo Monetário, tem toda uma condição que favorece a valorização do real.”

Se esta cotação se confirmar num período mais longo, a tendência, na opinião de Braz, é o consumidor assistir a preços cada vez mais baixos.

A economista Ariadne lembra que a queda do dólar é sentida primeiramente nos preços ao atacado. “O varejista pode escolher se ele vai repassar isso para o consumidor ou não. Em caso de incerteza se a queda vai se manter, ele pode escolher não repassar”, diz.

Viagens
Outro segmento também favorecido pela queda do dólar é o de viagens internacionais, lembra o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Vertamatti. “Quem quiser hoje viajar para os Estados Unidos tem dificuldade [em encontrar passagens, devido à alta demanda]. O preço está altamente atraente”, diz. “É mais barato que viajar para o Nordeste, por exemplo.”

Não recomendo nenhuma intervenção heterodoxa no dólar. Nossa economia vem estruturada. (...) Mexer na moeda vai desequilibrar nossa economia"
Roberto Vertamatti, vice-presidente de Finanças da Anefac

O lado negativo da queda do dólar é o fato de tornar os produtos brasileiros menos competitivos no exterior. Cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do país vêm das exportações, segundo André Braz.

No caso de máquinas e equipamentos, está mais fácil importar do que produzir aqui dentro. Vertamatti teme que isso possa provocar a substituição da produção local pela importação. “O Brasil está transferindo a mão de obra lá para fora.”

O economista explica que além do cenário interno neste momento favorecer a depreciação do dólar, há ainda uma componente internacional. A moeda americana está desvalorizada no mundo, em comparação com várias outras moedas. “Isso preocupa porque este desequilíbrio pode prejudicar os países em desenvolvimento, em especial o Brasil. A China não deixa sua moeda flutuar e isso desequilibra o sistema no mundo inteiro.”

Intervenções
Para tentar diminuir a entrada de dólares no Brasil e, assim, frear a valorização do real, o governo tem anunciado uma série de medidas. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), por exemplo, subiu de 2% para 4% para investimentos estrangeiros em renda fixa. Na quarta-feira (6), o Tesouro ganhou permissão para comprar mais dólares no mercado. Na quinta-feira (7), uma nova resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) criou um mecanismo para impedir que os estrangeiros migrem da renda variável para a renda fixa, como forma de fugir da nova taxação do IOF.

Para Vertamatti, todas essas medidas funcionam como “paliativos”. O Brasil, na análise do executivo, precisa lidar com questões mais estruturais. “O que o Brasil precisa fazer – e isso é a médio e longo prazo – é baixar os juros, que são um dos mais altos do mundo. Tem que mexer no gasto público que está muito alto, precisa fazer as reformas Fiscal e Previdenciária”, avalia.
“Não recomendo nenhuma intervenção heterodoxa no dólar. Nossa economia vem estruturada. (...) Mexer na moeda vai desequilibrar nossa economia”, conclui Vertamatti.

Fonte: Globo.com

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