30 de set. de 2010

Flávio Dino: Roseana se sustenta em Lula, mas PT me apoia

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O arranjo eleitoral do PT é um desafio ao entendimento do eleitor no Maranhão. Em votação, o diretório local do partido decidiu apoiar a candidatura de Flávio Dino, do velho aliado PCdoB. A direção nacional petista interveio e forçou a coligação com o PMDB dos Sarney, antigos rivais, obedecendo a costura da chapa presidencial. No horário eleitoral, o PT está atrelado à governadora Roseana Sarney, mas líderes petistas de outros Estados fazem propaganda para o pecebista. Nas ruas, o PT também se associa ao PCdoB.
Ou seja, partidos concorrentes estão unidos como sempre; e os coligados, na prática, são adversários, como sempre. Difícil de compreender? Dino explica:
- Os petistas todos do Maranhão fazem campanha para mim, não tem ninguém do PT fazendo campanha para ela (Roseana). Aconteceu aqui uma decisão de cima para baixo que não refletiu o sentimento dominante no partido. Então, hoje não há dúvida para a população de que o candidato do PT sou eu. O PT é um partido identificado com lutas sociais, movimento sindical, movimento popular, igrejas. Como é que o PT, de repente, vai defender a continuidade da oligarquia, né? É uma coisa tão artificial, que não funciona.
Porém, a arquitetura eleitoral não se resume a isso. O presidente da República pede votos para o PMDB. E, na opinião do candidato do PCdoB, é nisso que se sustenta a governadora. "É como se o Lula fosse um balão de oxigênio da candidatura dela, que está na UTI", ilustra o deputado federal, entrevistado por Terra Magazine.
Apesar de pesquisas de intenção de voto apontarem a liderança de Roseana, ele se anima com seu crescimento e a perspectiva de segundo turno.
- Há uma mobilização em torno da ideia da mudança política do Maranhão, uma vez que aqui existe um domínio do mesmo grupo, faz praticamente 50 anos. Este diagnóstico tem impulsionado nossa candidatura. Esse domínio resultou nos piores indicadores sociais do Brasil - afirma Dino.
Ele recorre à alternância de poder na região para apontar a necessidade de a oposição vencer as eleições na sua terra. "A Bahia, o Ceará, o Piauí, Pernambuco, os Estados do Nordeste todo fizeram mudanças na política. O Maranhão é o único que permanece preso ainda ao esquema político da ditadura militar", avalia. "Uma das explicações é a força do Sarney na política nacional. Sempre usou muito bem a política nacional para manter o seu domínio sobre o Maranhão".
Confira a entrevista.
Terra Magazine - Como o senhor avalia este final de campanha e seu crescimento nas pesquisas de intenção de voto?
Flávio Dino - Estamos exatamente nesta fase da campanha, de grande crescimento, porque há uma mobilização em torno da ideia da mudança política do Maranhão, uma vez que aqui existe um domínio do mesmo grupo político, faz praticamente 50 anos. Este diagnóstico tem impulsionado nossa candidatura. Esse domínio resultou nos piores indicadores sociais do Brasil. Na medida em que se afirma esta verdade, nossa candidatura, que é mais identificada com a mudança, cresce. Então, há um clima de muito entusiasmo neste momento em todo o Estado com a nossa ida ao segundo turno.
Jackson Lago (candidato do PDT) afirmou que é praticamente inevitável uma aliança entre suas candidaturas para o segundo turno, quem quer que seja o adversário de Roseana Sarney (DEM).
Eu e ele somos representantes do campo da mudança. E ela representa a continuidade. Então, a tendência naturalmente é que haja essa união no segundo turno.
A governadora é criticada por não apresentar o sobrenome na sua campanha eleitoral.
Ela tem essa tática de zerar o relógio da história. Tanto que, quando ela voltou ao governo, o lema dela era "Nova governo do Maranhão, ano 1". É uma tentativa de fazer o passado ser esquecido e colocar, no seu lugar, promessas de futuro. O que a gente tem indagado é: "Bom, se existem tantas promessas de um futuro radiante, por que elas não se realizaram antes, na medida em que eles já vêm de tanto tempo, e ela própria governou por 10 anos?". Teve tempo suficiente para reverter esses indicadores sociais. Exatamente por isso ela não só esconde o sobrenome como esconde o presidente Sarney, né? Até hoje ele não apareceu (na propaganda eleitoral dela) na TV, no rádio, nada, é como se ele não tivesse nada a ver com a campanha dela.
A alegação é que ele está filiado ao PMDB do Amapá.
O argumento não tem nenhum sentido, nem político nem jurídico. Até porque ele está no Amapá por uma contingência. Ele é um político do Maranhão, todo mundo sabe disso. Na verdade, trata-se de tentar esconder o passado. Porque ele sabe que o legado desse passado é uma herança maldita.
Há quem compare a atual situação com a de 2006, quando a governadora tinha um patamar de liderança e acabou derrotada no segundo turno. O senhor também vê semelhanças?
A tendência é essa, que haja um segundo turno bastante similar. Porque este é um sentimento da sociedade, algo que transcende a política. Na verdade, tendo concluído a visita a praticamente todos os municípios do Maranhão, em todos eles há este sentimento de "chega", de "basta", de virada de página, que sustenta a candidatura e, portanto, projeta um segundo turno parecido (ao das eleições anteriores).
O senhor soube da entrevista em que Caetano Veloso mencionou, para uma rádio de sua cidade, Santo Amaro, no interior da Bahia, seu crescimento nas pesquisas eleitorais?
Não vi isso aí. A Bahia, de um modo geral, é até um exemplo sempre citado aqui. Não só a Bahia, mas o Ceará, o Piauí, Pernambuco, os Estados do Nordeste todo fizeram mudanças na política. O Maranhão é o único que permanece preso ainda ao esquema político da ditadura militar.
Qual a explicação para isso?
Acho que especialmente uma das explicações é a força do Sarney na política nacional. Quer dizer, sempre usou muito bem a política nacional para manter o seu domínio sobre o Maranhão.
Se bem que o grupo dele foi derrotado nas eleições para governador em 2006. Mas acabou voltando ao poder por decisão da Justiça (que cassou o governador Lago e conduziu Roseana a novo mandato).
É, pelo tribunal, o que confirma minha tese, né? Que sua força nacional sempre sustentou seu domínio. Agora mesmo, se o Lula não estivesse pedindo voto para Roseana, se estivesse pedindo voto para mim... Ela sustenta os percentuais (de voto) dela por conta disso. É como se o Lula fosse um balão de oxigênio da candidatura dela, que está na UTI.
Que sentimento ficou da aliança com o PT que havia sido aprovada no Estado e acabou desfeita por intervenção da direção nacional? Até porque o senhor considera justamente este apoio petista como o impulso da candidatura dela.
Na verdade, é o Lula. Porque o PT está com a gente. Os petistas todos do Maranhão fazem campanha para mim, não tem ninguém do PT fazendo campanha para ela. Aconteceu aqui uma decisão de cima para baixo que não refletiu o sentimento dominante no partido. Então, hoje não há dúvida para a população de que o candidato do PT sou eu. O PT é um partido identificado com lutas sociais, movimento sindical, movimento popular, igrejas. Como é que o PT, de repente, vai defender a continuidade da oligarquia, né? É uma coisa tão artificial, que não funciona.
Esse apoio de petistas ao senhor é oficial, com depoimentos gravados ou acontece nas ruas e nos palanques?
Na rua. Nós colocamos na TV (depoimento de) ministros, deputados e senadores que são do PT (e apoiam a candidatura do PCdoB). O PT local foi obrigado a coligar (com o PMDB) e não tem aparecido no meu horário de televisão, mas tem aparecido nos palanques, nos comícios, nas passeatas, tudo.

Fonte: Eliano Jorge - Portal Terra

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